A apóstrofe se faz necessária. Não dá pra separar Perla e sua obra de sua nacionalidade.
A cantora paraguaia despontou na década de 70 com grandes sucessos populares e versões de músicas do pop internacional, vertidos ora para o português, ora para castellano, o espanhol ou o guarani. Dona de uma voz poderosa, de tons graves e quentes, Perla sempre foi uma artista popular, no melhor sentido da palavra. Me lembro quando criança, de vê-la em programas da tarde, que tocavam música romântica e sertaneja, como o Clube do Bolinha. Sempre estive muito interessado em sua obra e agora começo a pesquisá-la com mais afinco.
Ouvir suas gravações da década de 70 e início de 80, época de ouro da sua discografia, desperta em mim uma ternura imensa, por conta da forma das canções, da forma de cantar e da objetividade crua das letras. Do ponto de vista melódico e harmônico, uma simplicidade incrível, que resulta em arranjos absurdamente dançantes, brilhantes, cheios de glitter. Mesmo em arranjos um pouquinho mais ousados, com dobras de andamento (como é o caso de Estrada do Sol), o que impera é a vontade de fazer dançar, de fazer curtir. Devo confessar que estou sendo absolutamente parcial nesse sentido, por não gostar nem um pouco do rumo que toma a música de pista atual.
A música de Perla me interessa verdadeiramente, porque me interessa o que é verdadeiramente popular. O que é escutado ainda hoje em rádios AM.
O que isso tudo tem a ver com o Bruta Flor? O meu gosto pela música popular e a vontade de ver onde vai dar essa mistura com o contemporâneo.
Recomendo algumas gravações, a quem interessar possa...
Do primeiro disco, de 1972, os clássicos Impossible creer que te perdi,e Abandono. Arranjos cheios de cordas e sopros. Lindo.
A partir de 1975, Perla começa a gravar em português. Desse disco, recomendo as deliciosas Por este amor eu darei a vida (com arranjo de metais bem à moda Evaldo Braga), Brindo por ti e por mim, a já citada Estrada do sol (que também foi trilha do filme ‘Domésticas’ de Fernando Meirelles) e a deliciosa versão do pop italiano Rumores (que dá um sampler lindo pra qualquer um que queira explodir uma pista).
De 1976, as duas versões do grupo sueco ABBA, Hasta mañana, e Fernando abrem o disco. Muito bom ouvir Perla cantando ABBA, com versões de letras que nem sempre seguem as originais. ABBA já é deliciosamente cafona por si só. Cantado em português por uma cantora com sotaque paraguaio, fica irresistível.
O disco de 1977 traz outra versão de ABBA, Recordar é viver e o sucesso de Peninha, Sonhos. Mas a grande pérola é Eu sei tudo, professor (Yes Sr. I can boggie), versão do duo feminino espanhol Baccara. Está entre as minhas preferidas. Perla segue bem o estilo sexy-inocente do duo espanhol, mas sua voz mais quente fatalmente imprime mais sensualidade à canção, cheia de elementos disco no arranjo, um clássico.
Em 1978, Rios da Babilônia puxa o disco. Outra versão bem bacana do ABBA, Sonho que sou uma águia. Assim como no disco de 1979, com Pequenin’. Uma amiga diz que foi a um show de Perla nessa época e antes que pudesse perceber, já estava com outras crianças no palco em volta de Perla enquanto esta cantava Pequenina... Nesse disco ainda há Cuba e O amor está no ar (Love is in the air), Não pare a música (Don’t stop the music) e Você chegou para ficar (I Will survive). Uma delícia.
Bacaníssimas ainda são as gravações de clássicos da música latinoamericana, como Índia (que Perla só veio gravar em 1981), Anahí, El dia que me quieras, Malagueña, La Barca, Esta tarde vi llover, Sabras que te quiero, Recuerdos de Ypacaray, Cucurucu Paloma, Cuando calienta el sol...
Abram os ouvidos!
20/06/2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário